Vamos usar mais um dos meus livros para nos acompanhar nesta reflexão: "O corpo não esquece"*/ do Dr. Bessel van der Kolk, um reconhecido especialista mundial em trauma. Estamos, portanto, bem acompanhados. O assunto é complexo, mas vamos falar dele de forma abreviada, ainda que rigorosa, facilmente entendível por não especialistas - já que quem escreve também não o é.
O diálogo, a compreensão e as relações humanas podem ajudar a controlar as sequelas do trauma. Daí este post. Quem sabe algum leitor pode identificar, em si ou no outro, sintomas de trauma nunca lidos como tal? Quem sabe pode vir a dar ou pedir ajuda de forma mais informada?
O que causa trauma?
Talvez para si o trauma, o stress pós-traumático, esteja ligado à guerra, a violência, a uma catástrofe natural, ... talvez lhe venham à cabeça os acidentes graves,... quem convive com alguém com problemas de alcoolismo,... quem sofre violência doméstica. Quem for vítima de abuso, de qualquer natureza.
E tem razão. Embora as situações/eventos com potencial traumático não se esgotem aí (testemunhar uma cena de grande violência, mesmo não estando envolvida/o pode ser traumático. O abandono também pode ser traumático, por exemplo). O leque é bastante abrangente e vai para além do conceito de senso comum evidente, digamos.
Onde se pode originar um trauma?
Pelo atrás exposto se percebe que não é necessário viver em guerra, num campo de refugiados, ... para falar de cenários socialmente reconhecidos como traumáticos. O pior é que o trauma pode acontecer a cada um de nós, aos nossos amigos, vizinhos, familiares.
É assim que o trauma afeta quem está/esteve diretamente exposto ao mesmo e também aqueles que com eles interagem nos vários contextos relacionais. Os seus ataques de fúria e alheamento emocional podem ser assustadores para as famílias e causar depressão, ansiedade, insegurança. Crianças expostas a violência familiar podem vir a tornar-se em adultos com dificuldade em manter relações estáveis e de confiança.
Quais são quais as consequências do trauma?
O trauma traz consigo "um mundo invisível de consequências". Transforma e "agarra-se a cada fibra do corpo". Impacta o sistema biológico e imunitário. Transforma o cérebro. Deixa marcas nas emoções. Causa medo, pânico, fúria, pesadelos, insónia. A secreção de hormonas de stress sobe... Perde-se a capacidade de confiar, de sentir prazer e alegria, de estabelecer e manter relações, de falar do evento traumático (buscando afastar a dor que pode ser insuportável).
Não é fácil ultrapassar um trauma. Segundo o Dr. van der KolK a zona cerebral responsável por assegurar a nossa sobrevivência não é dada à negação. Mesmo ao fim de muito tempo da ocorrência traumática qualquer sinal de perigo a pode reativar. É assim que o aumento de stress sentido "precipita emoções desagradáveis, sensações físicas intensas e ações impulsivas e agressivas" que surgem de forma "incompreensível e irreprimível", sem motivo aparente.
Este investigador, foi fundador do Trauma Center, onde durante décadas têm sido tratados crianças e adultos traumatizados. Em reunião semanal de equipa são discutidos, de forma aprofundada, a maneira como reagem aos tratamentos de forma a possibilitar investigação que leve ao tratamento dos diferentes grupos com os medicamentos adequados.
Escreve ao terminar o prólogo de "O corpo não esquece": escrevi este livro (...) também para nos comprometermos, enquanto sociedade, a usar todos os meios de que dispomos para o prevenir. "
Pela minha parte, enquanto professora e formadora, sempre procurei dar o meu contributo para afastar o trauma das escolas, usando, ajustando e sugerindo metodologias adequadas. Como terapeuta, venho fazendo formação, desde há anos, procurando estudar com investigadores e profissionais de saúde reconhecidos que proporcionam formação a terapeutas. Foi assim que conheci a obra e livro do Dr. van der Kolk, que hoje partilho consigo.
A si, que chegou até este post, espero ter sido útil. E, já agora, colabore no pedido do dr. Kolk: previna o trauma - em si e nos outros.👍
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