Talvez se surpreenda - mas não, me enganei. Hoje o assunto são memórias - não memória.
Vai valer a pena, principalmente para si - caso pense que tem boa ou má memória consoante se lembra ou esquece onde põe as chaves, o telemóvel, ...
Ainda mal pensávamos racionalmente, digamos, já vivíamos imersos em acontecimentos que ocorriam nas nossas vidas. E deles guardamos memórias.
Para além do foco com que vamos falar de memórias, neste post, outros podem vir a passar por aqui - mas hoje escolhi este. Vamos ver porquê.
Nunca disse ou fez algo que foi contra tudo o que quis dizer ou fazer? Nunca teve uma reação mais violenta do que era justificado? "Ferve em pouca água"? Passou imenso tempo a preparar uma apresentação aos colegas e quando o momento chegou só conseguia pensar que ia ser um falhanço e que ninguém iria prestar atenção?
Vamos ver se consigo trazer até si uma ideia do que pode estar a acontecer:
Nascemos com um "programa" que se destina a proteger-nos. Como se fosse o nosso escudo invisível, ativo contra danos que nos ameacem, de uma forma ou doutra. Digamos que admite o prazer mas evita a dor.
À medida que caminhamos na vida acumulamos memórias, a vida cola-se e imprime-se nas nossas células. Vamos falar delas brevemente, seguindo o Dr. Alexander Loyd e o Dr. Ben Johnson.
Falemos, para começo, das memórias herdadas:
Quando espermatozoide e óvulo se unem dá-se o milagre da vida que vai permitir ao bebé, herdar os olhos da mãe ou os cabelos do pai mas, também, memórias celulares de ambos, que por sua vez também as receberam dos seus pais.
Vamos agora refletir um pouco acerca das memórias anteriores à linguagem e ao pensamento lógico:
O bebé que chora noite com sede ou com fome, vai gritar até que a sua necessidade seja satisfeita. A mãe ou o pai podem vir até ele de forma calma. Ou irritada.
A forma de reagir condiciona a memória de prazer ou de dor. E vai ensinar a criança a procurar ou a evitar algo, reforçando o escudo protetor, para sua proteção, passe a redundância.
O bebé não tem capacidade de racionalizar a irritação demonstrada no cuidado.
Não tem condições para compreender os quadros de cansaço e sobrecarga em que os pais frequentemente se movem. Não tem palavras e conceitos para entender o que sucedeu - mas a dor, essa fica registada e impressa na memória das células. Fica armazenada como uma dor anterior à linguagem.
Mais tarde - criança, adolescente ou adulto - vai vir ao de cima, parecendo mas não surgindo do nada, como acabámos de ver.
Pode vir a ter impacto negativo na relação futura com mulheres, que envolva conforto ou amor- ou simplesmente no desconforto inexplicável que pode sentir sempre que acordar durante a noite.
Ou numa reação intempestiva e inesperada face a um acontecimento que por si não a justifica (relativamente a uma cor, uma chuvada, ...).
Os autores que vimos seguindo relatam um caso a que chamaram "memórias gelado":
Uma paciente com um elevado QI (180) e formada com distinção numa escola prestigiada parecia reunir todas as condições para ter sucesso profissional. No entanto reconhecia estar a sabotar, continuamente, a sua carreira.
Veio a lembrar que a origem desta situação esteve num episódio aparentemente simples: pelos seus 5 anos a mãe deu um gelado à irmã mais velha. A ela recusou dar. Segundo a mãe a irmã mereceu pois tinha almoçado bem. Quando ela fizesse o mesmo receberia também um gelado.
Quantas vezes as mães adotam este tipo de comportamento.... São más mães? Muito provavelmente são mães que fazem a cada momento o melhor que podem e sabem.
Mas aquele episódio foi codificado à medida de uma criança de 5 anos. E a memória celular criada não foi de prazer mas de dor.
E assim ficou ativa, a marcar e condicionar a vida profissional de forma negativa, desperdiçando recursos internos que não estava segura de merecer - sem ter ideia da origem de tal crença acerca de si mesma.
As memórias anteriores à linguagem e ao pensamento lógico podem marcar a nossa vida: com o que fazemos ou deixamos de fazer, com quem julgamos ser e não somos, com as crenças autolimitantes que podem nascer de milhares de situações como as atrás descritas.
Falemos agora das memórias traumáticas:
Estas memórias ocorrem ao longo da vida - sempre que ocorre um trauma. Vão sendo codificadas, sempre que a dor as for imprimindo nas nossas células.
A memória traumática depende da leitura que fizermos do acontecimento independentemente da sua dimensão ou natureza, como pretendi exemplificar atrás, no caso do bebé ou da profissional que sabotava o seu sucesso profissional.
Não necessita, portanto, haver gritos, violência física.
A leitura que foi feita no caso da negação do gelado, pela criança de 5 anos a quem a mãe o negou, foi que a mãe preferia a irmã e que ela não conseguia ter o valor que a irmã tinha, logo, alguma coisa de errado se passava com ela. Logo, isso deveria acontecer com outras pessoas, que também não iriam gostar dela.
E assim foi criada e reforçada uma crença negativa e autorealizável no desempenho profissional. Ela pensava e agia baseada no trauma da criança de 5 anos - ainda que de início nem o recordasse.
É o sistema de proteção do corpo a funcionar. As memórias de dor têm maior prioridade de proteção para o organismo.
O cérebro racional é ignorado e é ativado o cérebro de resposta ao stress.
Este poder de resposta que visa defender-nos se excessivo pode fazer-nos submergir por memórias traumáticas, não conscientes e viver em estado de stress permanente.
Sabendo-se hoje que o stress é causa de todas ou quase todas as doenças fácil se torna perceber que temos que aprender a desativar o mesmo indo à causa e não ao sintoma.
Voltaremos ao assunto. Continue por aqui!🙏
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